Beba-me/Coma-me
Pertencer sem ser julgado
Seu toque, seu beijo, seu resguardo
Seu sorriso com sua fala, sua pressa e calma
Nós dois sedentos num mesmo banheiro
Ainda é permitido enganar — aqui todos podemos errar
Eu que aprendi quem sou com você
Você que é tão parecido comigo
Que me carrega em seus braços
Que lambe meu umbigo
Não são dois corpos que se tornam um, mas uma multiplicidade que se revela
Eu que sempre lembro de ti, lembro e suspiro
Senti seu cheiro, seu delicioso gosto
Mas nada se compara ao sabor de sua voz
Fragmento de linguagem que penetra fundo todo esse ser
Que domina e ginga, com a delicadeza dos ventos
— com a força de mil sóis —
De frente pros espelhos, sem vergonha alguma
Roupas pelo chão, eu inteiro em sua mão
São olhares de ternura, sons ofegantes
Eu e você sussurrando baixinho pra não chamar atenção
Enquanto vibramos intensamente, de forma que o mundo não possa ignorar
Não há nada a esconder, nós somos o segredo exposto
A superfície é sempre a mais elegante inscrição
O tempo infinito, pulsando firme
Quantas horas duram o que é imperceptível?
Me ajoelhar perante a ti, seu encarar potente
Seus dedos que circundam, que fincam minha pele, deslizam pelos cabelos
Belos e ritmados toques de excitação
Diante da quentura da vontade — nenhuma solidão
As batidas do estéreo mesclando com as do coração
Amplificando o desejo, o tesão
Se enfim estou dançando é porque esses pés já não sentem mais culpa
E talvez essa seja a liberdade de ser querido
Noites que invadem esperança n’alma
Coma-me, beba-me
Eu atravesso o espelho e, quando vejo, estou sorrindo outra vez